sexta-feira, 18 de março de 2011

Filha dos sonhos v.s Filha da realidade

Imagino que quando os pais e as mães sabem que vão ter um bebé imaginam-no como ele será no futuro principalmente se for rapariga: médica, magra, bonita, com muitos amigos, adorada por todos, com uma relação muito próxima com os avós, e isto apenas para falar em algumas coisas.
Há uma coisa que o meu pai me diz que eu fico desolada: " Todos os pais têm as filhas dos sonhos e a filha da realidade e nós temos que nos adaptar à filha que temos!".
 Eu não sou de todo a filha perfeita: não tenho altas notas, a matemática faz-me ter pesadelos, não sou muito alta (168 cm), não sou magra de todo, amigos não me posso queixar, tenho poucos mas sei que os pouco que tenho são bons e não tenho uma ligação com os meus avós paternos e também não pretendo ter. E esta lengalenga toda porquê? Porque nunca estamos satisfeitos!
Eu tenho uma espécie de deficiência no pé direito, não o assento bem no chão, entorto-o para fora, ou seja, não tenho estabilidade. Já fui operada duas vezes e não resultou.
Da primeira vez que fui operada ao pé, cortaram-me o osso e o pé nunca mais cresceu - embora o outro também não tenha crescido muito -, digo-vos que as dores eram horríveis, durante três meses não pude colocar o pé no chão e aquilo que supostamente o médico devia operar não operou, a justificação que ele deu aos meus pais foi esta: " Sabe senhor .... quando abrimos o pé vimos que o que íamos fazer não ia dar resultado no pé da menina", quem disse isto foi um dos melhores médicos do país, no que diz respeito à ortopedia infantil. O tempo foi passando e quando as melhoras no andar não apareciam.
Até que desisti daquele médico, eu também fui ficando mais velha, o meu pai arranjou-me algumas consultas, fui observada por vários médicos até chegar a um ortopedista que diziam ser, outra vez, um dos melhores do país. Lá fui a várias consultas, fiz montes de RX e o médico decidiu-me operar novamente. Como é possível imaginar, comecei a chorar imenso porque ia ter dores de morrer novamente, não ia poder pôr o pé no chão e ia perder as férias de verão - já era mais velha, as ideias eram outras - mas ainda assim, fui operada novamente e a operação que o médico fez foi a que o primeiro devia ter feito!
Passados quatro anos, agora com dezoito, vejo que as dores que tive foram em vão, continuo a não ter estabilidade no pé direito, tenho montes de sapatos que não consigo utilizar porque estão todos deformados estou a tornar-me adulta e como todas as mulheres adultas, adoro sapatos de salto alto e não consigo andar neles é claro que a nossa calçada não ajuda mas a culpada não é só ela.
Além de ter consciência que nunca poderei usar saltos agulha nos meus pés (se pudesse andava com eles todos os dias!), como tenho excesso de peso, não consigo usar a roupa que quero e que vejo nos cabides, não posso comprar roupa nas lojas digamos, da moda, porque elas não me servem, já tentei todas as dietas possíveis e imaginárias mas nunca as consigo levar até ao fim.
Por isso tudo, eu sei que tu não sabes que eu tenho um blog, mas pai eu adoro-te e peço desculpa por não ser a filha dos teus sonhos!

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